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As Troças Mistas assemelham-se aos Clubes de Frevo. Saem pela manhã ou à tarde apresentando-se nas ruas do centro ou do subúrbio recifense. Nas comunidades em que se originam, arrebatam homens, mulheres, crianças e idosos. O improviso, a descontração e a irreverência são a tônica no desfile dessas agremiações.

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A palavra “troça” vem do verbo “troçar” que significa “ridicularizar”, “escarnecer”, “zombar de”. Palavras que traduzem o verdadeiro espírito da brincadeira. O surgimento de uma troça está quase sempre ligado a uma história pitoresca, ou a uma brincadeira entre amigos.

MENINO DA TARDEA MULHER DO DIA

O termo “mista” no nome da troça indica que ela é composta por homens e mulheres. Apesar de raras, algumas troças não mistas ainda se apresentam, como é o caso da Troça Carnavalesca Ceroula de Olinda, que no seu cordão não é permitida a entrada de mulheres, mas apenas de maneira figurativa.

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A organização de uma troça no momento de sua apresentação obedece à seguinte sequência: a diretoria, seguindo-se de balizas ladeadas por cordões, figuras de frente, passistas, fantasias de destaques, porta-estandarte e uma orquestra de metais, que encerra o desfile.

De maneira geral as troças são caracterizadas pela simplicidade. Porém, temos a presença de alguns grupos tradicionais que trazem grandes orquestras, alas rigorosamente organizadas, temas, destaques grandiosos e são tão luxuosas quanto os Clubes de Frevo (noturnos), tornando-se o horário do desfile quase uma determinante para a sua designação.

Muitas troças desfilam no Carnaval do Recife, participam do Concurso de Agremiações Carnavalescas e outras se apresentam apenas em suas comunidades.

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As Troças são divididas, pela Federação Carnavalesca Pernambucana em primeira, segunda e terceira categorias, havendo outras que, por não estarem filiadas, não pertencem a quaisquer divisões. São a alegria dos subúrbios, chamadas por vezes de “levanta poeira”. Alegram o carnaval de rua, durante o dia, e, por vezes, se apresentam com mais luxo e melhores orquestras, que os próprios clubes carnavalescos.

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Estas são algumas das Troças Carnavalescas em atividade nos festejos de carnaval de Pernambuco:

A MULHER DO DIA – fundada em 1967

BACALHAU DO BATATA – fundada em 1965

BATUTAS DE ÁGUA FRIA – fundada em 1940

CACHORRO DO HOMEM DO MIÚDO – fundada em 1910

CAMISA VELHA – fundada em 1922

CARIRI OLINDENSE – fundada em 1921

CEROULA DE OLINDA – fundada em 1962

DESTEMIDOS DE CAMPO GRANDE – fundada em 1921

ELEFANTE DE OLINDA – fundada em 1950

FORMIGA SABE QUE ROÇA COME – fundada em 1957

MENINO DA TARDE – fundada em 1975

MULHER NA VARA – fundada em 1915

OS IRRESPONSÁVEIS – fundada em 1983

PITOMBEIRA DOS QUATRO CANTOS – fundada em 1940

TARADOS DA SÉ – fundada em 1987

batutas-de-sao-joseEm Pernambuco, o Carnaval reúne diversos tipos de manifestações culturais. Entre maracatu, frevos e shows de grandes artistas, estão as tradicionais agremiações. Para entrar no clima da folia, conheça um pouco mais sobre a história de uma dessas agremiações o Bloco Carnavalesco Misto Batuta de São José.

É uma das agremiações tradicionais que desfilam no Carnaval de Pernambuco. Em sua primeira reunião, contou com uma ajuda da Igreja para se organizar.

Foi fundado no dia 5 de junho de 1932, no Pátio de São Pedro, n.33, (Recife), com uma festa animada pela banda do 21º Batalhão de Caçadores.

Surgiu como uma dissidência do Batutas da Boa Vista e é o mais antigo bloco carnavalesco misto em atividade ininterrupta  do Recife.

A história do bloco foi contada através das músicas do compositor e carnavalesco João Santiago dos Reis, que se inspirou no dia-a-dia da agremiação. Personagens importantes da agremiação foram homenageados por ele como o fundador Augusto Bandeira, na música A vitória é nossa; Edite, figura obrigatória da ala feminina do bloco, em Edite e o cordão; Osmundo, um barbeiro que sempre foi o reco-reco de ouro do bloco, lembrado na músicaReminiscência; Levino Ferreira, um dos mais importantes compositores de frevos-de-rua do carnaval de Pernambuco, em Escuta Levino.

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O maior sucesso comercial do Batutas, no entanto, foi a música Você sabe lá o que é isso, também de autoria de João Santiago, feita para o carnaval de 1952 e que ficou conhecida como o hino do bloco:

Eu quero entrar na folia, meu bem

Você sabe lá o que é isso

Batutas de São José, isso é

Parece que tem feitiço

Batutas tem atrações que,

Ninguém pode resistir

Um frevo desses bem faz,

Demais a gente se distinguir

Deixe o frevo rolar

Eu só quero saber, se você vai brincar

Ah! Meu bem sem você não há carnaval

Vamos cair no passo e a vida gozar.

Passaram pelo bloco, além de João Santiago e Levino Ferreira, outros grandes compositores como Edgard Moraes, Nelson Ferreira e Álvaro Alvim.

João Santiago dirigiu a orquestra Jazz do Batutas de São José, em 1958. A partir de 1959, passou a comandá-la o maestro Mário Guedes da Silva.

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Hoje, o bloco é frequentado e administrado apenas por antigos sócios. A juventude o esqueceu, não colabora mais.

A sede atual fica localizada no bairro de Afogados e suas únicas fontes de renda são os bailes realizados aos domingos e uma verba de ajuda de custo recebida da Prefeitura da Cidade do Recife

A falta de maior incentivo do poder público, dívidas trabalhistas, além do abandono da maioria dos sócios beneméritos colocam em risco a sobrevivência da agremiação, de tantas tradições e contribuições ao carnaval recifense e à cultura pernambucana.

Terminado o período da Semana Santa, Pernambuco começa a pensar no seu Ciclo Junino, que mistura religiosidade e festas profanas com muitos ritmos tradicionais da cultura nordestina. E dentre estes ritmos está a ciranda, dança solar e praieira encontrada no litoral Norte de Pernambuco.

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Há várias interpretações para a origem da palavra ciranda, mas segundo o musicólogo Padre Jaime Diniz, um dos pioneiros a estudarem o assunto, vem do vocábulo espanhol zaranda, que significa instrumento de peneirar farinha e que seria uma evolução da palavra árabe çarand. Herdada pelos portugueses, a dança foi difundida a partir do município de Goiana (PE).

Apesar de ser conhecida no Brasil como uma brincadeira de roda infantil, em Pernambuco torna-se um folguedo de adultos, o que não impede a presença de crianças. Por ser uma dança especialmente comunitária, envolve participantes de todas as idades que, de mão dadas, seguem o bailado circular, ritmado pela batida percussiva, em passos para dentro e para fora, como se fossem as ondas do mar.

A ciranda, assim como o coco em Pernambuco, era mais dançada nas pontas-de-rua e nos terreiros de casas de trabalhadores rurais, partindo depois para praças, avenidas, ruas, residências, clubes sociais, bares, restaurantes. Em alguns desses lugares passou a ser um produto de consumo para turistas.

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É uma dança comunitária que não tem preconceito quanto ao sexo, cor, idade, condição social ou econômica dos participantes, assim como não há limite para o número de pessoas que dela podem participar. Começa com uma roda pequena que vai aumentando, a medida que as pessoas chegam para dançar, abrindo o círculo e segurando nas mãos dos que já estão dançando. Tanto na hora de entrar como na hora de sair, a pessoa pode fazê-lo sem o menor problema. Quando a roda atinge um tamanho que dificulta a movimentação, forma-se outra menor no interior da roda maior.

Os participantes são denominados de cirandeiros e cirandeiras, havendo também o mestre, o contra-mestre e os músicos, que ficam no centro da roda. Voltados para o centro da roda, os dançadores dão-se as mãos e balançam o corpo à medida que fazem o movimento de translação em sentido anti-horário.

A coreografia é bastante simples: no compasso da música, dá-se quatro passos para a direita, começando-se com o pé esquerdo, na batida forte do bombo, balançando os ombros de leve no sentido da direção da roda. Há cirandeiros que acompanham esse movimento elevando e baixando os braços de mãos dadas.

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O bombo ou zabumba, mineiro ou ganzá, maracá, caracaxá (espécie de chocalho), a caixa ou tarol formam o instrumental mais comum de uma ciranda tradicional, podendo também ser utilizados a cuíca, o pandeiro, a sanfona ou algum instrumento de sopro.

O mestre cirandeiro é o integrante mais importante da ciranda, cabendo a ele “tirar as cantigas” (cirandas), improvisar versos, tocar o ganzá e presidir a brincadeira. Ele utiliza um apito pendurado no pescoço para ajudá-lo nas suas funções. O contra-mestre pode tocar tanto o bombo quanto a caixa e substitui o mestre quando necessário. As músicas podem ser as já decoradas, improvisadas ou até canções comerciais de domínio público transformadas em ritmo de ciranda. Pode-se destacar três passos mais conhecidos dos cirandeiros: a onda, o sacudidinho e o machucadinho.

Alguns dançarinos criam passos e movimentos de corpo, mas sempre obedecendo a marcação que lhes impõe o bombo. Não há figurino próprio. Os participantes podem usar qualquer tipo de roupa e a ciranda é dançada durante todo o ano.

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A partir da década de 70 as cirandas começaram a ser dançadas em locais turísticos do Recife, como o Pátio de São Pedro e a Casa da Cultura, modificando um pouco a dança que se tornou mais um espetáculo. O mestre, contra-mestre e músicos saíram do cento da roda para melhor se adaptarem aos microfones e aparelhos de som, passando também a haver limite de tempo para a brincadeira.

Compositores pernambucanos como Chico Sciense e Lenine enriqueceram seus repertórios, utilizando a ciranda nos seus trabalhos.

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Uma das cirandeiras mais conhecidas é a Lia de Itamaracá. Surgiu também, simultaneamente, em áreas do interior da Zona da Mata Norte do Estado. É muito comum no Brasil definir ciranda como uma brincadeira de roda infantil, porém na região Nordeste e, principalmente, em Pernambuco ela é conhecida como uma dança de rodas de adultos. Os participantes podem ser de várias faixas etárias, não havendo impedimentos para a participação de crianças também.

pe1Pernambuco é, antes de tudo, um estado marcado pela diversidade cultural. E tem uma população que respira e valoriza a sua cultura, passando de geração em geração. Não por acaso, o estado é conhecido no país como um dos que têm a cena cultural mais viva, construída a partir da contribuição de índios, portugueses, holandeses, judeus, africanos, entre outros. É celeiro de poetas, artistas plásticos e músicos reconhecidos em todo mundo, sem falar nos seus movimentos, no carnaval, no São João, em nossa cultura. Isso é Pernambuco.

Vários gêneros musicais e danças surgiram no estado de Pernambuco ao longo dos anos. O frevo, um dos principais gêneros musicais e danças do estado e símbolo do Carnaval Recife/Olinda, se caracteriza pelo ritmo acelerado e pelos passos que lembram a capoeira, expressão cultural que tem em Pernambuco um de seus berços. Em cerimônia realizada na cidade de ParisFrança, no ano de 2012, a UNESCO anuncia que, aprovado com unanimidade pelos votantes, o frevo foi eleito Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

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Nos anos 1990 surgia em Pernambuco o Manguebeat, movimento da contracultura que mistura ritmos regionais, como o maracatu, com rockhip hopfunk e música eletrônica. O movimento tem como principais críticas o abandono econômico-social do mangue, a desigualdade de Recife.

O Manguebeat tem como ícone o músico Chico Science, ex-vocalista, já falecido, da banda Chico Science e Nação Zumbi, idealizador do rótulo mangue e principal divulgador das ideias, ritmos e contestações do manguebeat. Outro grande responsável pelo crescimento desse movimento foi Fred Zero Quatro, vocalista da banda Mundo Livre S/A e autor do primeiro manifesto do Mangue de 1992, intitulado “Caranguejos com cérebro”.[

Maracatu Nação, também conhecido como “Maracatu de Baque Virado”, é uma manifestação cultural da música folclórica pernambucana afro-brasileira. É formada por um conjunto musical percussivo que acompanha um cortejo real.

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Maracatu Rural, também referido como “Maracatu de Baque Solto”, é outra manifestação cultural de Pernambuco, na qual figuram os conhecidos “caboclos de lança“. Distingue-se do Maracatu Nação em organização, personagens e ritmo. O Maracatu “Cambinda Brasileira” é o mais antigo em atividade no País.

pe6Baião, gênero de música e dança, teve como maior expoente o pernambucano Luiz Gonzaga. O ritmo, ao lado de outros como o xote, faz parte do chamado forró. Já o Xaxado, dança típica originária do sertão pernambucano, é exclusivamente masculina e foi divulgada numa vasta área do interior nordestino pelo cangaceiro Lampião e pelos integrantes do seu bando.

Também são muito comuns em Pernambuco as Bandas de Pífanos, além de outras músicas e danças oriundas do estado, como a Ciranda (um ícone  do ritmo é Lia de Itaamaracá), o Cavalo Marinho, o Pastoril, o Coco (Dona Selma do Coco é uma das representantes do ritmo), a Embolada, dentre outras manifestações.

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Em Pernambuco surgiram artistas e grupos de destaque da música brasileira, como Luiz GonzagaBezerra da SilvaLenineAlceu ValençaChico ScienceDominguinhos,Geraldo AzevedoReginaldo RossiSibaOttoNação ZumbiMundo Livre S/ACordel do Fogo EncantadoMestre AmbrósioNando CordelMichael SullivanFred Zero QuatroClarice FalcãoJohnny HookerLula QueirogaOrtinhoJosé Carlos BurleFernando LoboCynthia ZamoranoJorge de AltinhoPetrúcio AmorimCapibaDJ Filipe Guerra, entre muitos outros; além de instrumentistas de renome internacional, como Naná VasconcelosWalter WanderleyAntônio MenesesRobertinho do RecifeMiguel KertsmanMoacir SantosAntônio NóbregaMarlos NobreLuperce MirandaJames StraussJoão PernambucoLuís Álvares Pinto, dentre outros tantos.

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Tudo isso é apenas uma demonstração da rica cultura de Pernambuco. Uma cultura que orgulha os pernambucanos, que é passada de geração em geração, levada para todos os cantos do mundo, mas que só pode ser sentida em sua alma em nosso Estado. Por isso, para conhecer um pouco mais do que o povo pernambucano tem a oferecer não basta estudar e ler… Tem que experimentar. Isso é Pernambuco.